quarta-feira, março 21, 2007

Silêncio

A pessoa que sou é única,
limitada a um nascer e a um morrer,
presente a si mesma e que só à sua face é verdadeira,
é autêntica,
decide em verdade a autenticidade de tudo quanto realizar.
Assim a sua solidão, que persiste sempre
talvez como pano de fundo em toda a comunicação,
em toda a comunhão, não é 'isolamento'.
Porque o isolamento implica um corte com os outros;
a solidão implica apenas que toda a voz que a exprima
não é puramente uma voz da rua,
mas uma voz que ressoa no silêncio final,
uma voz que fala do mais fundo de si,
que está certa entre os homens como em face do homem só.
O isolamento corta com os homens:
a solidão não corta com o homem.
A voz da solidão difere da voz
fácil da fraternidade fácil
em ser mais profunda
e em estar prevenida.

Vergílio Ferreira, in 'Espaço do Invisivel I'

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